Quem está no controle?

"Nada é mais poderoso do que aquele que domina a si mesmo."

Marcelo Tempesta, PhD

12/15/20256 min read

O que você tem feito com tudo o que a vida te entrega?

Citando novamente um conhecimento que se perpetua ao longo de toda nossa existência, sendo hoje mais validado que nunca: Nossa mente pode fazer do céu um inferno, mas também pode fazer de infernos um céu.

Não controlamos a chuva, mas podemos controlar os significados que damos aos dias nublados, chuvosos e de tempestades. Não podemos parar ou voltar o tempo, mas podemos escolher o que fazer com o tempo que nos é dado, a partir de cada segundo.

Sócrates, com sua busca incansável pela sabedoria, nos lembra que a mente é o palco onde se desenrola o exame da existência: "Só sei que nada sei, e o fato de saber isso me coloca em vantagem sobre aqueles que acham que sabem alguma coisa." Essa humildade intelectual nos provoca a refletir: ao atribuir significados negativos a desafios inevitáveis que a vida nos apresenta, não estamos nos condenando a um “inferno” autoimposto?

O pensamento crítico, inspirado nessa visão socrática, nos capacita a questionar e reavaliar esses significados automáticos, elevando-nos de vítimas das circunstâncias a arquitetos de melhores realidades. Ou seja, aprimorar o pensamento crítico é despertar e elevar o nosso estado de consciência - é melhorar a qualidade da nossa forma de pensar e criar realidades.

Como escreveu Marco Aurélio: "Em algum momento você tem que reconhecer a que mundo você pertence, que poder o rege e de que fonte você brota; que há um limite para o tempo atribuído a você, e se você não usá-lo para se libertar, ele acabará e nunca mais voltará..."

Essa reflexão estoica nos estimula a questionar: se o tempo é finito e regido por forças maiores, por que desperdiçá-lo em interpretações que nos aprisionam, em vez de usá-lo para cultivar uma consciência que nos liberta, reconhecendo nossa fonte interior de poder? Ela também nos impulsiona a um autoexame profundo, semelhante ao método de Sócrates, que insistia em que "uma vida não examinada não vale a pena ser vivida".

Visão expandida e a liberdade de reinterpretar realidades

Outra pergunta extremamente importante: O que você acha!? A gente consegue? Lidar com todas estas contínuas e complexas mudanças do mundo sem evoluir a nossa forma de pensar?

Conseguir, muitos até conseguem, muitos outros nem tanto... Uns mais, uns menos... Muitos outros, não. Mas, a questão é: Como você quer experienciar estas mudanças, passar por cada uma delas? De forma boa ou ruim? Sendo rígido, passando aos trancos e barrancos, sobrevivendo a elas tendo que se submeter e engolir o que vier? Ou mais flexível, evoluindo e desfrutando de uma vida mais próspera, com mais liberdade e paz de espírito?

A escolha é de cada um! Cada escolha tem o seu preço, o seu peso, a sua medida... Cada escolha tem as suas dores, desconfortos, desafios... Cada escolha tem o seu mérito e valor, ou não... E, independente de tudo isso, cada escolha tem o seu desenrolar, suas consequências e desfechos... Como você já sabe – somos o resultado da somatória de nossas escolhas – cada uma delas tem o poder de moldar nossa realidade para melhor ou para pior.

Platão, em sua alegoria da caverna, nos oferece uma visão alegórica da rigidez mental, de onde se extrai uma lição atemporal: prisioneiros acorrentados veem apenas sombras projetadas na parede, interpretando-as como a única realidade verdadeira, de tal forma que qualquer outra possibilidade sequer passa por suas mentes. A cegueira é tão grande a ponto de os fazer negar qualquer coisa que não seja familiar a suas sombras.

Daniel Kahneman, ao explorar melhor os sistemas de pensamento em seu livro Rápido e Devagar, revela como o "Sistema 1" – intuitivo e rápido – nos prende a respostas automáticas, enquanto o "Sistema 2" – reflexivo – permite reavaliações, pensar de verdade. É um livro excelente para compreender mais profundamente estes mecanismos. E, apesar de sua famosa frase “O que você vê é tudo o que há” (em seu devido contexto) - o que realmente aprendemos ao trabalhar melhor o sistema 2 (fundamental para um melhor pensamento crítico) é que tudo o que vemos não é tudo o que existe.

Na verdade, desenvolver o pensamento crítico é ativar o sistema 2, fomentando questionamentos e reaprendizados que remodelam nossa jornada, onde a liberdade surge não como ausência de limites, mas sim como maestria em ressignificá-los para uma vida de comportamentos e propósitos renovados... Inclusive, o aprimoramento do nosso sistema 2 nos permite definir melhores padrões automáticos desencadeados pelo sistema 1. Ou seja, nos permite transformar automatismos maléficos em benéficos, desconstruir ciclos viciosos e construir ciclos virtuosos. Por isso que se diz que o sucesso é treinável... Mas enfim!

Ao nos libertarmos das correntes de hábitos rígidos e visões limitadas (visto que existem muito mais coisas do que conseguimos enxergar), emergimos para a luz do mundo real, onde a flexibilidade se torna não uma fraqueza (como mal interpretada por muitos), mas o portal para a construção de uma existência mais plena. Em outras palavras, a flexibilidade de qualidade, conferida por um melhor pensamento crítico, transforma desafios em oportunidades de construir melhores realidades – transforma sombras em esclarecimento.

De uma forma mais prática, esta flexibilidade (mentalidade de crescimento) permite que a gente adicione novas percepções e contextos em nossas “equações” para melhores tomadas de decisões, escolhas e condutas. Ou seja, a gente passa a considerar coisas que antes não considerávamos em nossas análises, interpretações e tiradas de conclusões. E, ao fazer isso – tudo pode mudar devido a possibilidade de alteração da tríade do Significado, Conexão e Atitude.

Escolha ser um guerreiro no jardim...

O mundo em que vivemos exige cada vez mais contínuos reaprendizados e reavaliações. Faz com que a gente tenha que repensar e ressignificar rotineiramente nossas decisões, escolhas e condutas. Nos renovar, nos reinventar, entre tantos outros “re's” possíveis em nossas vidas. Percebeu né? Cada "re" é uma oportunidade para esculpir e lapidar não só nossa mente, mas nossa própria existência.

Nesse chamado para a reinvenção constante em busca de versões cada vez melhores de nós mesmos, Napoleon Hill, em "Pense e Enriqueça", defende a ideia de que "o que a mente humana pode conceber e acreditar, ela pode realizar". Hill nos inspira a ver o aprendizado contínuo não como um fardo, mas como o combustível para manifestar aspirações, questionando: quais amarras mentais estamos dispostos a soltar para que nossa visão se expanda?

Da mesma forma, o neurocientista Pedro Calabrez, em suas aulas sobre neuroplasticidade, nos lembra que o cérebro não é fixo, mas maleável – capaz de se reorganizar através de práticas intencionais de reflexão e aprendizado. Ele explica que, ao desafiarmos rotinas neurais antigas, criamos novas sinapses (caminhos neurais) que nos tornam mais adaptáveis e competentes para lidar com as mais variadas circunstâncias do dia a dia. Em outras palavras, enriquecemos repertórios para executar uma melhor gestão emocional e comportamental perante os acontecimentos da vida.

Parafraseando um famoso dito popular: “Se você tem apenas uma hora para cortar uma árvore, invista os primeiros 30 minutos afiando seu machado,” enfatizando assim a essencialidade do preparo. Portanto, escolha afiar constantemente sua mente. Você prefere ser um jardineiro em uma guerra ou um guerreiro em um jardim?

Que a gente se conecte cada vez mais com jornadas para despertar melhores consciências, se livrando assim das tantas amarras que nos limitam, pois liberdade é o propósito mais valioso da vida. Podemos sim termos privações externas, mas para a mente preparada - a liberdade interna é de nosso total controle e isso muda tudo! Por isso dizemos que quem controla a própria mente é livre mesmo nos ambientes mais desafiadores, mas quem não exerce o domínio de si é refém das circunstâncias.

Para finalizar - somos o que somos e estamos onde estamos por causa de tudo o que está em nossa mente. Ao aprimorarmos o nosso pensamento crítico, limpamos nossas lentes para uma melhor compreensão de tudo, assim como de nós mesmos com o todo... Aprimorar o pensamento crítico é aprender a lidar cada vez melhor com o que quer que seja. E saiba - mesmo não tendo o controle sobre um monte de coisas, podemos sim escolher focar em pensamentos mais saudáveis, construtivos e do bem.

Portanto, que cada um de nós não se prenda a uma realidade de limitações que não desejamos para nós e nem para os outros. Que cada um escolha não se privar da luz do conhecimento e do poder da ação! Podemos sempre escolher percorrer melhores caminhos e ser luz para aqueles que também estão na busca por melhores caminhos. Espalhe esta chama! Pois quem compartilha, multiplica...

Marcelo Tempesta, PhD