Pensamento crítico e gestão de significados

O Pensamento Crítico e a Arte de Ressignificar a Realidade

Você já parou para pensar sobre como a sua realidade é, de fato, construída? Muitas vezes, a percebemos como algo fixo e externo, mas a verdade é que somos cocriadores ativos dessa experiência. Nesta edição, vamos explorar um pouco mais como o pensamento crítico é essencial para ressignificar o mundo ao seu redor e assumir o controle da sua própria vida.

Nossa realidade é tecida por contextos e percepções, e o fio condutor desse processo é o nosso grau de pensamento crítico. Fazendo uma analogia - o pensamento crítico é o maestro da nossa orquestra mental, harmonizando pensamentos, emoções e ações. A qualidade desse processo determina a qualidade do resultado final – a vida que construímos e a forma como dela desfrutamos. Independente das nossas condições atuais, seja na vida pessoal, profissional ou emocional, sempre há espaço para melhorar. Mas, como dizia Napoleon Hill, "o ponto de partida de qualquer conquista é o desejo." Esse desejo ardente é o combustível para a busca, pois, sem busca, não há encontro. Heráclito, o filósofo pré-socrático, nos lembra que a mudança é a essência da realidade: "Ninguém entra duas vezes no mesmo rio, pois tudo flui." Para Heráclito, a vida é movimento constante, e cabe a nós direcionar esse fluxo com reflexão consciente, transformando o desejo em ações que moldam uma realidade mais plena.

Uma pausa para uma reflexão crítica: estamos cada vez mais condicionados a aceitar o que nos é entregue, em vez de buscar o que realmente queremos. Consumimos conteúdos que chegam facilmente, muitas vezes sem questionar sua qualidade ou relevância. Esse comportamento reduz nosso limiar de esforço, nos condiciona a buscar o caminho mais fácil e nos prende ao que chamo de automatismo maléfico. Trazendo um exemplo mais prático, a maior parte das pessoas são escravas dos algoritmos das redes sociais, moldando suas percepções apenas com contextos do que é apresentado a ela (para não dizer imposto a ela). Ou seja, limitando absurdamente sua consciência e consequentes realidades nas diferentes áreas da vida. Esta maioria acredita estar escolhendo, mas na verdade outros estão escolhendo por ela. Infelizmente, esta maioria sequer está pensando de verdade, mas este é um assunto para outro momento. Como nos lembra Sócrates, "a vida não examinada não vale a pena ser vivida". O pensamento crítico é essa ferramenta de exame, o farol que ilumina as sombras da ignorância e da suposição, permitindo-nos questionar o que tomamos como verdade.

Robert Sapolsky, neurocientista que estuda o impacto do estresse e do ambiente no comportamento, explica que nosso cérebro, sob pressão ou hábito, tende a recorrer a respostas automáticas para economizar energia. Essas respostas, porém, podem nos confinar a uma bolha cada vez menor, limitando nossa visão de mundo. Sócrates, com sua sabedoria atemporal, nos desafia a romper esse ciclo: "O segredo da mudança é focar toda a nossa energia não em lutar com o antigo, mas em construir o novo." Ele nos convida a direcionar nosso desejo para o aprendizado e a reflexão, libertando-nos das limitações impostas pela mente irreflexiva. Um convite para nos atentarmos e cuidarmos melhor das inflexibilidades de nossas convicções construídas ao longo do tempo, justamente para que elas não nos privem de construir e desfrutar de uma vida mais próspera, com experiências de melhor qualidade.

O reflexo de nossas escolhas - um óbvio que a maioria ignora

Nossa realidade, em qualquer área da vida que a gente queira considerar, nada mais é do que o significado que cada um de nós escolhe dar. Pois é este significado que acaba determinando nossas decisões, escolhas e condutas, determinando assim todo o resto.

Agora importante! O significado que a gente atribui para o que quer que seja é definido pelos contextos e percepções que cada um de nós escolhe considerar. Então imagina: Um mesmo acontecimento está diante de nós, de acordo com os contextos e percepções que cada um escolher considerar, podemos tirar diferentes conclusões, dar diferentes significados, e consequentemente, podemos tomar diferentes decisões, fazer diferentes escolhas e ter diferentes condutas em relação a isso. Percebe o impacto que isso pode causar na vida de cada um!? O acontecimento é o mesmo, mas podemos ter comportamentos completamente diferentes a partir dele e, consequentemente, criar diferentes realidades a partir do mesmo evento. Boas ou ruins, melhores ou não. Construtivas ou destrutivas, positivas ou não. Todo este complexo processo que estou simplificando é regido pelo nosso grau de pensamento crítico. Como mencionado, pensamento crítico é como se fosse o regente de uma orquestra, o maestro. Por isso a importância de aprimorar este processo como um todo. Pois a qualidade deste todo determina a qualidade de todo o resto.

Friedrich Nietzsche, em sua filosofia da autossuperação, nos provoca a criar nossos próprios significados: "Você deve tornar-se quem você é." Para Nietzsche, a vida é uma tela em branco, e cabe a nós, através da reflexão crítica, pintar uma realidade que reflita nosso potencial mais elevado. Shawn Achor, pesquisador da psicologia positiva, reforça essa ideia em seu livro O Jeito Harvard de Ser Feliz: "Nossa percepção da realidade pode ser moldada pela forma como escolhemos ver o mundo." Achor argumenta que, ao mudar nossas perspectivas, podemos transformar desafios em oportunidades, criando realidades mais positivas e produtivas. E é isso que um melhor pensamento crítico nos permite fazer: avaliar contextos, questionar suposições e escolher significados que nos aproximem de nossos objetivos.

Michel Foucault, filósofo que analisou o poder das narrativas, nos lembra que a realidade é construída pelas histórias que contamos a nós mesmos: "O conhecimento não é feito para compreender; é feito para cortar." Para Foucault, o pensamento crítico é uma ferramenta de desconstrução, que nos liberta de narrativas limitantes e nos permite criar novas possibilidades – Em outras palavras, cortar fora o que não nos serve mais, o que nos prejudica.

O poder do aprendizado - outro obvio transformador de vidas amplamente ignorado

Para qualquer melhoria, o aprendizado é indispensável. Não podemos ignorar o poder do aprendizado. A ignorância – o ato de ignorar o que não sabemos ou sequer não sabemos que não sabemos – nos condena a uma existência de privações.

Como dizia Sócrates: "Existe apenas um bem – o saber, e apenas um mal – a ignorância." Limitar nosso mundo a uma gota, quando há um oceano de possibilidades, é uma renúncia de nosso potencial... É um abandono do que temos de melhor. Isaac Newton complementa: "O que sabemos é uma gota, o que ignoramos é um oceano." Aprimorar o pensamento crítico nos conecta a esse oceano, expandindo nossos repertórios. Portanto, fica o alerta: não se deixe seduzir por este mal. 

Aprimorar nosso pensamento crítico nos torna melhor preparados para lidar com um mundo cada vez mais desafiador. Aprimorar nosso pensamento crítico melhora nosso discernimento e consequentemente a qualidade de nosso caráter e legado para futuras gerações. Aprimorar nosso pensamento crítico nos ajuda a descobrir o quanto é recompensador aprender, ressignificando medos e evidenciando oportunidades antes não percebidas.

Carol Dweck, com sua teoria da mentalidade de crescimento, reforça que acreditar na nossa capacidade de aprender é a chave para a evolução: "A visão que você adota sobre si mesmo afeta profundamente a maneira como você conduz sua vida." Aprimorar nosso pensamento crítico contribui com nossa sabedoria, segundo o contexto de Sócrates, pois nos torna mais conscientes sobre os limites da nossa própria ignorância. Einstein também já alertava: o primeiro dever da inteligência é duvidar dela mesma. E uma das formas de mensurá-la é a capacidade de mudar. Assim como George Bernard Shaw - É impossível haver progresso sem mudança e, quem não consegue mudar a si mesmo, não consegue mudar coisa alguma. 

Em resumo, o pensamento crítico é a ferramenta que nos permite mudar – mudar nossas percepções, nossas decisões, nossas escolhas, nossos comportamentos, nossa realidade. Como disse Wayne Dyer, com sua visão inspiradora: "Mude o modo como você olha para as coisas, e as coisas que você olha mudarão." Visão esta que reforço com famosa citação de Marco Aurélio: "Nossa vida é apenas percepção.” 

Ou seja, somos cocriadores de nossa realidade apenas quando atuamos sobre ela com protagonismo e autenticidade. Por isso a importância de compreendermos mais profundamente nossa verdadeira identidade, composta pelos grandes pilares da ciência da personalidade, história de vida e projetos pessoais. Mergulho este que a Tempestando oferece na imersão individual “O Poder do Significado.” 

Esses ensinamentos, perpetuados por séculos, nos mostram que a ressignificação é uma prática poderosa, aplicável ao passado e ao futuro. Podemos mudar o significado de experiências passadas e moldar o que está por vir, desde que tenhamos a coragem de questionar e refletir. Em outras palavras - podemos ressignificar o que quer que seja do nosso interesse, mudando os contextos e percepções inicialmente considerados. Mudando assim a nossa realidade, o nosso estado atual. Esta é uma prática que pode ser usada tanto para o que já passou quanto para tudo que ainda acontecerá em nossas vidas.

Mas, claro que fazer tudo isso envolve processos e processos requerem esforços de nossa parte – requer investimento de energia, em vez de desperdício. Requer treino e não atalhos, imediatismos. A busca por uma vida mais plena exige desejo ardente, como dizia Napoleon Hill: "Nossa força maior não está na capacidade de pensar, mas no poder de controlar e direcionar nossos pensamentos para onde quisermos." E tudo isso é treinável. Podemos reduzir e erradicar ciclos viciosos que nos prejudicam, assim como implementar e potencializar ciclos virtuosos que nos permitem criar riqueza e prosperidade.

Mihaly Csikszentmihalyi, em sua teoria do fluxo, complementa que a verdadeira realização vem quando alinhamos nossos pensamentos, sentimentos e ações em direção a um propósito significativo. Ele escreve: "O melhor momento da vida ocorre quando o corpo ou a mente é levado ao seu limite em um esforço voluntário para realizar algo difícil e valioso." O pensamento crítico nos ajuda a encontrar esse alinhamento, transformando desejo em ação consciente.

“Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes"

Assim como esta frase de Isaac Newton perpetua a importância de alianças e cooperações, Leonardo da Vinci também nos inspira ao compartilhar: "Sábio é aquele que escuta a voz dos que já morreram." A sabedoria acumulada por gerações está à nossa disposição, mas exige que tenhamos a coragem de buscar. Brene Brown, pesquisadora da coragem e vulnerabilidade, nos lembra que a conexão com essa sabedoria começa com a vulnerabilidade de admitir o que não sabemos: "A coragem começa com aparecer e se deixar ser visto." Em outras palavras, aceitar e se expor.

Dentro do contexto desta reflexão, compreenda que não saber algo e pedir por ajuda não é feio, nem sinal de fraqueza – É um primeiro passo para a transformação e evolução. Apenas se torna feiura e fraqueza quando não aceito, escondido, ignorado e perpetuado. Quando a pessoa não faz nada para mudar este estado. E assim, consequentemente, petrifica a ignorância (e proporcionalmente a qualidade de sua realidade) pela falta de verdadeira humildade.

Portanto, não discipline a ignorância. Não se prive dos prazeres e prosperidade de uma vida de constante aprendizado. Conecte-se com o universo de infinitas possibilidades! Está tudo a nossa disposição, mas sem busca não há encontro. Temos que exercitar cada vez mais nossa coragem e ousadia de ir atrás. Desafiador, sim! Mas todos somos capazes. É aqui que a sabedoria de Sêneca e outros estoicos ressoa com força: "As dificuldades fortalecem a mente, assim como o trabalho o faz com o corpo". O desafio não é um obstáculo ao caminho, mas o próprio caminho para a fortaleza e antifragilidade.

Cabe a cada um o que fazer com o tempo que lhe é dado. Torne-se uma pessoa cada vez mais destemida na busca pelo que coloca sua alma em chamas e que cuida da qualidade de suas próprias escolhas – a somatória de cada uma delas é o que molda resultados e realidades.

Marcelo Tempesta, PhD.