Ouse pensar de verdade!
A autenticidade de nossas buscas e a beleza de nossas escolhas.
Marcelo Tempesta, PhD
11/23/202512 min read


A autenticidade de nossas buscas
Vamos conversar sobre buscas verdadeiramente nossas – aquelas que ecoam no âmago da alma e definem o que realmente desejamos para a nossa vida. Juntos recapitularemos algumas reflexões desta nossa caminhada até agora, iniciando pela pergunta: como estamos desfrutando de cada segundo do tempo que nos é dado?
Este tempo que passa e que muitas vezes apenas contamos no relógio, nada mais é que a nossa vida passando. Temos que cuidar para que este tempo tenha significados de qualidade atrelados a ele, caso contrário, acabamos apenas contando o tempo em vez de fazer o tempo contar de verdade - e tempo desperdiçado é vida desperdiçada. Como disse Sêneca: “nossos vícios engolem qualquer quantidade de tempo.” Por isso que de nada adianta mais tempo para quem não o usa com qualidade.
Dito isso, permita-se parar com qualidade por alguns segundos, parar para respirar e refletir com serenidade - e busque avaliar melhor a qualidade dos significados que você tem atribuído a cada coisa que faz com o tempo que lhe é dado – qual a qualidade do significado que cada ato do seu dia a dia carrega?
De repente, você pode estar se perguntando: Mas como mensurar esta qualidade? Busque no seu íntimo pelos seus mais genuínos sentimentos, pois é no íntimo do que se sente que encontramos a verdade.
Compreenda que só quem se aprofunda no oceano de si mesmo é que descobre o tesouro que é e seus verdadeiros potenciais. E somente ao manifestá-los é que a nossa verdadeira autonomia é exercida e nossa real liberdade começa a ser construída. Este é o poder de desenvolver cada vez mais um melhor pensamento crítico. Sem desenvolvê-lo, nenhum ser humano se conhece de verdade, se apequenando assim diante do mundo, justamente por não ousar encarar a imensidão do universo que reside em seu interior.
Para reforçar este contexto e a importância dele, cito Sêneca, que já defendia que “nada é mais poderoso do que aquele que domina a si mesmo.” Assim como a famosa frase de Aristóteles, enfatizando que “A felicidade dos homens consiste em agir conforme sua verdadeira natureza.”
Infelizmente, um dos grandes males da humanidade é o ato de olhar para fora em vez de olhar para dentro. A maioria das pessoas está cada vez mais repleta de vazios, buscando preenchê-los com algo externo quando, na verdade, tudo o que a completa está dentro dela. Compreenda que quem move o mundo são pessoas inteiras. Pessoas incompletas são movidas pelo mundo, vagando vazias sem propósito e se distraindo com qualquer prazer.
Por isso reforço a importância de cuidarmos da qualidade com que usamos cada segundo do tempo que nos é dado. Como escreveu Marco Aurélio: "Em algum momento você tem que reconhecer a que mundo você pertence, que poder o rege e de que fonte você brota; que há um limite para o tempo atribuído a você, e se você não usá-lo para se libertar, ele acabará e nunca mais voltará..."
A beleza de nossas escolhas
Segundo vários pensadores – “não somos o que acontece conosco, nós somos o que escolhemos nos tornar." Reforçando de uma outra forma: o que acontece conosco não nos define. Somos definidos pela forma como reagimos ao que acontece conosco. Tudo são escolhas, especialmente escolhas de significados. No final das contas, somos moldados pelas escolhas que fazemos - e isto representa nossa realidade neste exato momento - o nosso estado atual. Simples assim, porém desafiador...
Platão, com a alegoria da carruagem alada, nos provoca a imaginar escolhas como rédeas que a guiam: "A alma é como uma carruagem alada; o cavaleiro deve equilibrar as paixões para ascender ao divino." Essa metáfora nos estimula a questionar: nossas escolhas equilibram paixões interiores para ascensão, ou cedem a impulsos que nos mantêm no chão e muitas vezes até nos enterram?
Melhorar o pensamento crítico é assumir e melhorar o controle das rédeas de nossa própria vida, em vez de se as deixar nas mãos de outros. Melhorar o pensamento crítico é melhorar nossos repertórios e padrões para tomadas de decisões, escolhas e condutas – quanto maior for o nosso grau de pensamento crítico, melhor será a qualidade de nossos comportamentos – e são eles que moldam todo o resto, nossas realidades em qualquer área da vida.
E como mensurar a qualidade de nossas escolhas? Sua beleza (ou não) reside no sabor de seus frutos – frutos de qualidade não deixam espaços vazios. Bons frutos multiplicam, transbordam - transformam desertos de escassez em jardins de prosperidade. Sêneca, em suas cartas estoicas, nos lembra que frutos verdadeiros vêm da persistência virtuosa: "Não é porque as coisas são difíceis que não ousamos; é porque não ousamos que as coisas são difíceis." E como tudo começa na mente - ouse pensar de verdade!
Se aprofundando um pouco mais: escolhas ousadas, guiadas por um melhor pensamento crítico, transformam a apatia e aversão por desafios, em curiosidade e prazer pela jornada e seus processos. Cultivam jardins internos de diligência e antifragilidade, onde a escassez emocional dá lugar a uma prosperidade que se multiplica em relações de qualidade e conquistas de valor. Simplificando – desenvolver um melhor pensamento crítico nos proporciona fazer uma melhor gestão cognitiva, emocional e comportamental, coerentes com a vida que desejamos construir e experienciar.
Nossas escolhas são um reflexo de nossas lentes
Como estão as lentes com que você enxerga o mundo e a qualidade de suas consequentes escolhas? E a qualidade dos resultados gerados por cada uma destas escolhas?
Daniel Kahneman, explorando as armadilhas cognitivas em seu livro "Rápido e Devagar", explica que os sentimentos frequentemente enganam por conta de muitas vezes serem despertados pelos mais variados tipos de vieses emocionais que as pessoas carregam e que atuam sobre elas, especialmente de forma inconsciente. Vieses estes que distorcem nossa percepção, discernimento e visão do mundo e das coisas como um todo, prejudicando assim nossa avaliação e atribuição de significados em relação ao que quer que seja. Simplificando: lentes distorcidas - realidades distorcidas, pois a qualidade com que a gente passa por cada passo de todo o processo de pensamento crítico está distorcida, prejudicada. E nossos comportamentos são frutos de tudo isso!
Quem aqui já não ouviu falar da sigla IPSAR – influências geram pensamentos, que geram sentimentos que impactam nossas ações. Ações estas que, por sua vez, acabam impactando nossos resultados – moldando assim nossa realidade. Entretanto, isso tudo não acontece nesta ordem específica – na verdade acontece “tudo junto e misturado” - e o verdadeiro mecanismo de funcionamento deste processo como um todo envolve outros pontos a serem considerados e é bem mais complexo. Aqui na Tempestando simplificamos tudo isso com muita efetividade por meio da Tríade do Significado, Conexão & Atitude.
Voltando à linha de raciocínio anterior - em resposta aos mais variados estímulos presentes no meio, nossas emoções são ativadas e desencadeiam reações pré-condicionadas, que são como atalhos que o cérebro automaticamente percorre. Dentro deste contexto, o pensamento crítico é o mapa que corrige caminhos distorcidos, inadequados e/ou equivocados." Quanto maior o seu grau de desenvolvimento, maior a sua assertividade.
Essa ideia nos provoca a refletir e questionar sobre a qualidade de nossos pensamentos e sentimentos. Assim como, inevitavelmente, de nossas crenças (tudo aquilo que acreditamos e deixamos de acreditar), visto aos poderes influenciadores tanto entre eles, quanto entre os demais pontos a serem considerados nesta grande equação que é a construção e desfrute de nossas realidades, em qualquer área da vida que queira considerar.
Como gostamos de enfatizar: sempre temos a escolha de mudar o nosso olhar, e ao mudar o olhar – tudo pode mudar por meio dos significados que atribuímos a partir de então. Mude as lentes com que você enxerga o mundo e todo o seu mundo mudará. Portanto, cuide para que a inflexibilidade de suas convicções não te prive de uma vida mais próspera. Pois não “vemos” o mundo como ele realmente é, mas sim como nós somos. Então, como querer mudar alguma coisa, querer alguma melhoria, sem antes se conhecer de verdade!?
Como Sócrates já promovia: “conheça-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo.”
O grande erro de ignorar o aprendizado contínuo
Afiar nossa mente é elevar o nosso pensamento crítico e aumentar nossas chances de melhoria em tudo aquilo que for de nosso real interesse e necessidade. Então por que nos privamos de aprender o que pode nos levar a ter uma vida mais próspera, com experiências de cada vez mais qualidade!? Por que ignoramos das mais variadas formas e pelos mais variados motivos o poder dos óbvios transformadores de vida?
Nietzsche já dizia: “A sabedoria é um paradoxo. O homem que mais sabe é aquele que mais reconhece a vastidão da sua ignorância.” Sócrates também defendia que existe apenas um bem – o saber, e apenas um mal – a ignorância. Por isso que aprimorar o pensamento crítico contribui para a nossa sabedoria, segundo o contexto de Sócrates, pois nos torna mais conscientes sobre os limites da nossa própria ignorância. Einstein também alertava que o dever da inteligência é duvidar dela mesma. E uma das formas de mensurá-la é a capacidade de mudar. Portanto, permita-se repensar, pois tudo gira em torno de nossas lentes – da nossa visão. E a pessoa que não consegue mudar a forma como enxerga o mundo e tudo o que dele faz parte – não consegue mudar coisa alguma.
Compartilhei anteriormente alguns pontos que ofuscam a nossa visão, prejudicando assim a definição de buscas verdadeiramente nossas. E um fenômeno que vem se intensificando de forma cada vez mais danosa são as armadilhas dos vieses comportamentais, especialmente dos que atuam sobre nós de forma inconsciente. O nocivo fenômeno das bolhas que criamos dentro da gotinha d’água que representa nossos mundinhos particulares quando paramos de aprender - quando negamos que o mundo é muito maior do que a gente acredita que seja - quando ignoramos a imensidão de universos que existem e desconhecemos.
Ao fazer isso, grande parte dos seres humanos está escolhendo, consciente ou não, não ter o trabalho, o esforço de pensar - atrofiando assim sua capacidade intelectiva, diminuindo seu repertório cognitivo e, consequentemente, diminuindo suas chances de mudanças, restringindo assim a busca por uma vida mais próspera. Acaba trocando o que mais deseja na vida por facilidades e prazeres imediatos, para se enquadrar em alguma bolha entorpecente e amenizar o vazio do que realmente se quer - mas não tem, não sente, não é...
Ou seja, a maioria troca conexões de qualidade e processos profundos por facilidades efêmeras e superficiais. Acabam escolhendo viver dentro das entorpecentes e ilusórias bolhas do “parecer”, que mascaram o imenso vazio do “não-ser”.
Portanto, encontre suas verdadeiras buscas, se conecte com significados de qualidade a cada uma delas e lute para se tornar a versão de si mesmo que irá conquistá-las. Decida pensar além para poder ir além, pois como sugere Bob Proctor, a visão é o portal para o potencial – “O que você vê na sua mente é o que você vai ter na sua mão.” Sua visão é a promessa do que um dia você se tornará.
Em resumo, nossas visões, quando limitadas por certas crenças e vieses, nos fazem trocar nossos mais desejados sonhos pelas fugazes bolhas do imediatismo, apagando assim versões de futuros que verdadeiramente, lá no íntimo, gostaríamos de viver. Em outras palavras, essas limitações impostas pela nossa própria mente nos fazem trocar comportamentos coerentes para construir e desfrutar da vida que verdadeiramente desejamos, por comportamentos negativos que nos distanciam cada vez mais do sucesso e prosperidade nas áreas de nosso real interesse e necessidade.
E por que isso acontece? De forma grosseira, visões distorcidas “nomeiam” incorretamente o mundo, levando a escolhas que perpetuam escassez. Como já mencionado: lentes distorcidas – realidades distorcidas.
Isso nos remete a famosa frase de Steve Jobs: “Cada sonho que você deixa para trás é um pedaço do seu futuro que deixa de existir.” Abandonamos muitos sonhos por conta da inflexibilidade de nossas convicções, por conta das certezas de nossos “achismos”, por conta da nossa resistência em mudar de opinião, entre tantas outras “teimosias” mais, fruto de um baixo grau de pensamento crítico. Mas ao aprimorá-lo, ele nos salva ao expandir nosso estado de consciência e visão, projetando buscas que revelam o nosso potencial dormente, transformando vazios em uma jornada de revelações que preenchem o nosso íntimo com mais sentido, significado, valor e propósito.
Se liberte das bolhas da cega massa
Como reforçam muitos autores: nosso mundo exterior sempre será um reflexo do nosso mundo interior. Portanto, nossa realidade se limita ao tamanho do nosso "mundo interior." Einstein já dizia que “tudo quilo que o homem ignora, não existe para ele. Por isso, o universo de cada um se resume ao tamanho de seu saber.” Ao abrirmos nossa mente para novas ideias, acessamos um mundo de possibilidades que antes sequer sabíamos que existia.
Portanto, compreenda que "a mente que não se abre a novas ideias, não se expande, e ao se limitar a fazer apenas o que já sabe, nunca será, fará e terá nada além do que já é, faz e tem..." Como Carol Dweck pontua em seu livro Mindset: “A visão que você adota para si afeta a forma que você conduz a sua vida.”
Reflita comigo: Nossa mente é mais gota e se contenta com mais do mesmo? Ou ela está em constante expansão, buscando explorar cada vez mais oceanos e fazer descobertas extraordinárias!? Nossa mente é rígida ou estamos cada vez mais abertos ao conhecimento, despertando e aprimorando uma mentalidade de crescimento!? Estamos ignorando um universo de possibilidades ou estamos em constante aprendizado, descobrindo a cada dia que a vida, o mundo, o todo - vai muito além do que imaginamos?
Adam Grant, em seu livro “Originais – como os inconformistas mudam o mundo“, explora os poderes da flexibilidade mental ao observar que visões rígidas bloqueiam a criatividade e inovação: "A maior barreira para o progresso é a ilusão de que já sabemos o suficiente." Um exemplo disso são vieses comportamentais, como o de status quo, que nos mantêm em bolhas de superficialidades e mesmices, nos fazendo trocar aprendizado e expansão, por falsos, temporários e fúteis confortos. A consequência de não quebrar estes ciclos viciosos é uma alienação cada vez mais profunda e aprisionante, que nos rouba o poder de exercer nosso verdadeiro livre-arbítrio.
Angela Duckworth, em seu livro “Garra”, argumenta que visões de qualidade e perseverantes superam desafios: "A garra é viver a vida como uma maratona, não como uma corrida curta." Ou seja, estes vieses prejudiciais nos fazem trocar buscas profundas por distrações imediatas, fugir de processos que requerem esforços adicionais de nossa parte, além daqueles que já estamos acostumados a fazer. Aliás, muitas pessoas transformam qualquer esforço adicional em problema. Imagina! Uma pessoa transformar em problema qualquer esforço adicional que tenha que fazer para conquistar algo! Para onde a humanidade está caminhando...
Pegou a visão!?
Aprimorar o pensamento crítico é uma questão de sensatez e sabedoria. É estar cada vez mais lúcido e longe das sombras da alienação. O nosso autoconhecimento é aguçado, criamos melhores parâmetros de pensamento e conduta, possibilitando assim a construção de uma vida mais próspera.
Como disse Einstein: “A percepção do desconhecido é a mais fascinante das experiências. O homem que não tem os olhos abertos para o misterioso, passará pela vida sem ver nada... Aquele que desconhece esta emoção, aquele que não para mais para pensar e não se fascina, está como morto: seus olhos estão fechados.”
Não ignore o poder transformador do que apenas ainda não aprendemos... E digo ainda, pois a qualquer momento podemos escolher aprender o que tem que ser aprendido para construir uma vida melhor.
Portanto, qual é a sua autêntica busca? O que te enche de energia só de pensar? Te traz mais vitalidade, deixa sua alma em chamas a ponto de te fazer agir intensamente, com constância, ousadia e satisfação para concretizar? Aquilo que te coloca em movimento? Aquela busca que faz você se conectar profundamente e se envolver de forma tão forte a ponto de desejar o processo, ter paixão por ele? Aquela busca que faz você transformar o processo para conquistá-la maior e mais importante que a própria conquista. Transformar o processo em seu estilo de vida...
Em outras palavras, aquilo que nos inspire a agir por livre e autêntica escolha e não por falta de opção. É totalmente diferente o resultado de uma escolha feita por sua real intenção, com um objetivo definido por você, quando comparado a simplesmente fazer uma escolha por obrigação, conformismo, ou aceitar o que vier. Neste caso a busca não existe. Ficamos estagnados, presos no mesmo lugar - e ainda podemos regredir. E isso é bem diferente de quando a gente nos privamos por escolha, por um objetivo maior que pode nos levar muito mais longe, para um futuro bem melhor.
Acredito que todos conheçam a frase: Quem não busca o futuro que quer, terá que aceitar o futuro que vier. Deseje buscar por melhorias. A busca autêntica nos renova, nos recarrega, nos coloca em movimento - Inflama nossa verdadeira esperança e aumenta o nosso poder de execução.
Voltando a pergunta inicial...
Sêneca, em “Sobre a Brevidade da Vida”, dizia que "a vida é longa se souberes usá-la." Essa frase resgata a pergunta inicial deste texto: como estamos desfrutando de cada segundo do tempo que nos é dado? Responda para você mesmo após ler a reflexão de Sêneca a seguir:
“Não é curto o tempo que temos, mas dele muito perdemos. A vida é suficientemente longa e com generosidade nos foi dada, para a realização das maiores coisas, se a empregamos bem. Mas, quando ela se esvai no luxo e na indiferença, quando não a empregamos em nada de bom, então, finalmente constrangidos pela fatalidade, sentimos que ela já passou por nós sem que tivéssemos percebido. Não recebemos uma vida breve, mas a fazemos. Nem somos dela carentes, mas esbanjadores. Apressa-te a viver bem e pense que cada dia é, por si só, uma vida.”
Boas escolhas e até a próxima reflexão Tempestando!
Marcelo Tempesta, PhD


