O que está crescendo no jardim de sua mente?

O pensamento crítico e a lei da semeadura

Marcelo Tempesta, PhD

10/21/20256 min read

A prosperidade é fruto de processos

É de nossa escolha aquilo que cultivamos e permitimos que cresça em nossa mente. E essas escolhas impactam nossa realidade para o bem ou para o mal.

Fazendo uma analogia, se sua mente fosse um jardim, como ele estaria hoje!? Bem cuidado, florescendo com ideias e valores que te elevam, ou contaminado por ervas daninhas que drenam sua energia e vitalidade? Quem ou o que você está permitindo entrar e permanecer nesse espaço sagrado? Essas presenças estão contribuindo para sua prosperidade ou sabotando seu bem-estar e qualidade de vida?

Pergunte-se, de verdade: O quão bem você está cuidando dele!? Quem (ou o que) você está deixando frequentá-lo!? Perceba que este “deixar” é uma escolha... Este "quem" ou "o que" você está deixando entrar, está contribuindo de forma positiva ou negativa, produtiva ou destrutiva, está te fazendo bem ou mal!? Lembre-se, no jardim de nossas vidas, nem todas as sementes serão plantadas só por nós, mas é de nossa escolha o que vamos cultivar e permitir que cresça.

Ralph Waldo Emerson, em seu livro “Autoconfiança” (Self-Reliance), nos provoca a assumir a responsabilidade por esse cultivo: "O que está por trás de você e o que está à sua frente não é nada comparado ao que está dentro de você." Desenvolver o pensamento crítico é como tornar-se um jardineiro habilidoso, escolhendo com cuidado as sementes que planta e nutrindo-as com atenção e propósito.

Aproveito o momento para estimular um pouquinho mais o nosso pensamento crítico - sobre um óbvio que geralmente ignoramos e outro que muitas vezes negligenciamos.

Como sabem, a lei da semeadura é infalível. O nosso plantio é opcional, mas a colheita é obrigatória. Porém, de nada adianta boas sementes se o solo não for fértil e pecarmos no cultivo, no ato de cuidar. Dito isso, qual a qualidade do seu cultivo!? O quão bem está cuidando daquilo que é prioridade em sua vida?

E mais - Qual a qualidade do que você tem definido como prioridade para sua vida? E com que qualidade você define o que é prioridade para você? Repensar sobre isso é vital pois, de repente, você pode estar cultivando muito bem algo que não quer colher ou deixando de cuidar daquilo que mais te importa, do que mais deseja.

O lado “obscuro” do processo de semeadura e cultivo

Simplificando, nossa realidade (nosso estado atual) nada mais é que o conjunto dos frutos de todo um processo de escolhas perante a qualquer acontecimento em nossa vida. Escolha do que analisar e como analisar. Escolha das possíveis interpretações e conclusões que podemos tirar. E, a partir deste ponto, da escolha dos significados que daremos a estas conclusões, definindo assim nossas possíveis tomadas de decisões, escolhas e condutas.

Todo este processo, que acontece em nossas vidas de forma consciente e principalmente inconsciente, é regido pelos contextos e percepções que escolhemos adotar e impactam significativamente nossa realidade. Se será de forma positiva ou negativa, construtiva ou destrutiva, para o bem ou para o mal, também pode ser de nossa escolha.

Desenvolver nosso pensamento crítico nos ajuda a assumir um melhor controle de todo este processo e lidar melhor com o que quer que seja. Especialmente em relação a parte inconsciente desta equação, representada por comportamentos automáticos que muitas vezes sequer temos noção que estamos executando e que tanto moldam nossas realidades, nas mais variadas áreas.

Susan David, em “Agilidade Emocional” (Emotional Agility), reforça que a maneira como interpretamos os eventos determina nossas respostas: "Entre o estímulo e a resposta, há um espaço. Nesse espaço está nosso poder de escolher." O pensamento crítico otimiza esse espaço, permitindo-nos avaliar contextos com mais clareza e escolher comportamentos mais coerentes e assertivos para a vida que desejamos construir e desfrutar.

Søren Kierkegaard, filósofo existencialista, nos lembra que cada escolha é um ato de liberdade, mas também de responsabilidade. Para Kierkegaard, viver de forma autêntica exige que enfrentemos o desconforto de escolher com consciência, em vez de sermos levados por automatismos. O automatismo maléfico – esse padrão de respostas inconscientes – é uma das maiores barreiras à evolução. Ele nos leva a aceitar crenças sem questioná-las, baseando-nos em achismos superficiais em vez de dados fundamentados.

Baruch Espinosa, em “Ética”, argumenta que a razão é o caminho para a liberdade: "A mente humana tem maior poder sobre as emoções quanto mais ela conhece a si mesma." Ao exercermos o pensamento crítico, iluminamos os cantos escuros de nossa mente, protegendo-nos de influências que nos conduzem a decisões irreflexivas.

Qualquer processo de mudança se inicia na aceitação

Voltando a linha de raciocínio sobre percepções e contextos que escolhemos adotar, Johann Goethe já dizia que "o homem com percepção suficiente para admitir suas limitações é o que mais se aproxima da perfeição." Essa humildade intelectual é a base para questionar a qualidade das informações que moldam nossas crenças – a multiplicidade de tudo aquilo que acreditamos e não acreditamos.

Entretanto, e infelizmente, a maioria das pessoas opera no estado de pensador irreflexivo, como descrevem Paul e Elder, aceitando conclusões prontas sem reflexão profunda. Esse ritmo hipnótico nos mantém presos a crenças distorcidas, que geram opiniões frágeis e condutas desalinhadas.

Marco Aurélio nos orienta que “observações seguidas de análises criteriosas nos são necessárias diariamente, ainda que sob pequeninas coisas ou fatos." Essa prática diária de reflexão é o que nos permite avaliar as linhas de raciocínio por trás de nossas conclusões, identificar novos contextos e ressignificar nossas percepções.

Barbara Fredrickson, com sua teoria da ampliação e construção, explica que a curiosidade e a abertura mental expandem nosso repertório de pensamentos e ações, construindo recursos duradouros. O pensamento crítico, nesse sentido, é uma ferramenta de ampliação, permitindo-nos cultivar um jardim mental mais rico e diversificado. Ele amplia o nosso estado de consciência e, consequentemente, nossa visão do mundo e de tudo que dele faz parte. E por falar em visão...

Ajoelhe-se diante do jardim de sua mente - o que você vê?

Uma vez que a qualidade das informações que consideramos define a qualidade do que acreditamos - Você já parou para repensar de forma mais profunda sobre a qualidade das informações que está considerando para definir as coisas que você acredita (e não acredita) até este momento em sua vida?

Você está se baseando mais em dados robustos, análises e interpretações de qualidade ou em achismos superficiais e frágeis suposições!? Todos nós sempre podemos ter opiniões sobre o que quer que seja. Sempre podemos achar algo, pensar algo sobre alguma coisa. Mas qual a propriedade, a estrutura, os fundamentos deste pensamento? Qual a linha de raciocínio que foi construída para se chegar à determinada conclusão? E principalmente, qual a qualidade do significado que foi dado a esta conclusão?

Adam Grant, em Pense de Novo, nos provoca: "Preferimos a facilidade de nos agarrarmos a visões antigas à dificuldade de compreender ideias novas." Essa resistência ao novo é um sintoma do baixo pensamento crítico, que nos mantém no automatismo maléfico. Carol Dweck, com sua teoria da mentalidade de crescimento, reforça que acreditar na nossa capacidade de aprender é o que nos liberta. Desapegar de crenças limitantes e abraçar o aprendizado é como podar as ervas daninhas de nosso jardim mental, criando espaço para novos brotos de prosperidade.

Em resumo, temos que cuidar para que a inflexibilidade de nossas convicções não nos impeça de construir e desfrutar da vida que verdadeiramente desejamos. E a humildade intelectual é uma peça-chave para isso! Ela é uma das habilidades a ser desenvolvida para elevarmos o nosso grau de pensamento crítico, melhorando assim a qualidade com que executamos cada passo da lei da semeadura como um todo. Essa humildade nos convida a questionar, aprender e evoluir. Portanto, permita-se cultivar um jardim que floresça com propósito, conexão e prosperidade.

Para finalizar, um fato absurdamente preocupante (e que está se intensificando cada vez mais) é que a maioria das pessoas se baseia em conclusões já prontas sem sequer fazer uma reflexão mais profunda sobre a qualidade desta informação. Comportamento típico de baixo grau de pensamento crítico, onde o que domina é o estado de pensador irreflexivo, cujo uma das características é, justamente, a falta de humildade intelectual. E o mais intrigante (apesar de esperado) é que se for perguntado para esta mesma maioria, elas responderão que são humildes. Mas, como sabemos - falar é uma coisa, e executar é outra bem diferente.

E como cada um de nós se encontra nesta história?

Basta nos questionarmos com qualidade o quanto estamos abertos ao conhecimento e ao aprendizado contínuo. Assim como, pelo menos, o quanto estamos respeitando ou sendo afetados de alguma forma por outras crenças, opiniões, ideias... Lembrando que questionamento de qualidade envolve mensurar o que estamos executando e sentindo de verdade, e não apenas o que acreditamos estar fazendo... Mas, mensurar este progresso é um assunto para outro momento.

Simplificando, sem a humildade intelectual e outras habilidades do pensamento crítico, a pessoa não pensa de verdade e se comporta como se a sua forma de pensar não impactasse sua realidade. Ela não cuida com a devida qualidade de cada passo da lei da semeadura, pois ela está mais reagindo em vez de agir com consciência e intencionalidade. Ela peca não só no plantar, mas também no cultivo e no próprio desfrute. Ela está no ritmo hipnótico, nos embalos de ciclos viciosos e seus automatismos maléficos, assumindo coisas como verdade (ou mentira) sem uma melhor avaliação ou questionamento de qualidade. Com este tipo de conduta, como você acha que serão os resultados? Aliás, por que você acha que a maioria não tem os resultados que verdadeiramente, lá no íntimo, gostaria?

Marcelo Tempesta, PhD.