O poder do pensamento crítico

De prisioneiro da mente a arquiteto da realidade

Marcelo Tempesta, PhD

12/8/202510 min read

A sombra da ignorância e a recusa em ver a luz

Nos dias de hoje, e cada vez mais, uma pergunta ecoa com urgência: como tanta gente pode compreender o mundo de forma tão destrutivamente equivocada? E mesmo com tantas evidências a disposição de todos, a resistência em compreender melhor o mundo persiste de forma insistentemente teimosa, aos extremos da alienação e estupidez?

Essa tendência a más interpretações, visões distorcidas, condutas negativas e discórdia não é um mero acaso. Como na Alegoria da Caverna de Platão, muitos parecem acorrentados no fundo de uma caverna, confortáveis com as sombras que sempre conheceram e temerosos da luz da verdade que poderia libertá-los, mas que, a princípio, ofusca e incomoda.

Essa resistência irreflexiva é um sintoma claro de um baixo grau de pensamento crítico. E apenas lidar com os sintomas não basta. Sem a cura, a doença se dissemina, se perpetua, e o estrago se intensifica. Ainda mais em uma sociedade onde cada vez mais qualquer esforço adicional é transformado em problema – onde até o ato de pensar a cansa... O mal precisa ser tratado na raiz.

O labirinto da mente: por que nos apegamos ao erro?

A questão fundamental é: por que a maioria ignora tanto a necessidade de atualizar seus conhecimentos, apegando-se ao que um dia foi aprendido como verdade final e ponto? Por que a maioria tende a carregar o obsoleto, o que não lhe serve mais, o que lhe faz mal e nem mais correto está?

O neurocientista e psicólogo Daniel Kahneman, autor de "Rápido e Devagar", nos oferece uma pista. Nossa mente opera com dois sistemas: o Sistema 1, rápido, intuitivo e emocional, que cria atalhos para poupar energia; e o Sistema 2, lento, analítico e lógico. A resistência à mudança vem do nosso conforto com o Sistema 1. Mudar de ideia exige o esforço do Sistema 2, algo que nosso cérebro tende a evitar. É mais fácil permanecer na "caverna" das crenças familiares do que se aventurar no esforço de questioná-las.

É aqui que entra a advertência do psicólogo organizacional Adam Grant: "Se o conhecimento é poder, saber o que não sabemos é sabedoria". Ele argumenta que a inteligência não é a capacidade de saber, mas a de estar disposto a "repensar". A recusa em atualizar o conhecimento é a falha em acionar esse ciclo do repensar, um processo essencial para o aprimoramento. Além disso, nós da Tempestando, assim como defendido por Tony Robbins, consideramos que conhecimento não é poder. Acreditamos que conhecimento só é poder quando aplicado com um pensamento crítico de qualidade. Em outras palavras – comportamento de qualidade aliado e guiado por conhecimento de qualidade é que é o verdadeiro poder!

A cura de males por meio do pensamento crítico – a origem de tudo

Sócrates nos ensinou que "uma vida não examinada não vale a pena ser vivida". A cura para as distorções que vemos no mundo começa com o exame de nossa própria mente. É por isso que o pensamento crítico se consagra como excepcional poder de ser a solução.

Muitos autores e mentes brilhantes mostraram que tudo — absolutamente tudo no contexto do ser, fazer e ter — é determinado pela qualidade de nossos pensamentos. Nosso grau de maturidade, nosso estado de consciência e nossos condicionamentos mentais têm como origem o nosso pensamento crítico. É ele quem determina como seremos influenciados pelos ambientes e, mais importante, os ambientes que escolhemos para nós – a qualidade de tudo aquilo que escolhemos nos expor e a qualidade de cada conexão.

Os filósofos estoicos, como Epicteto, Marco Aurélio e Sêneca, já afirmavam isso há séculos. Epicteto dizia que "não são os acontecimentos que perturbam os homens, mas sim a opinião que eles têm sobre os acontecimentos". Nossa mente, nossa "cidadela interior", é o único domínio sobre o qual podemos desenvolver controle absoluto. Mas claro, exercemos este controle apenas quando escolhemos aprimorar o nosso pensamento crítico. Este controle é proporcional ao nosso grau de desenvolvimento do “pensar de verdade”, que hoje, após todas as reflexões Tempestando, acredito que você já compreenda melhor o significado.

Em outras palavras, melhorar o nosso pensamento crítico é melhorar a qualidade da nossa gestão emocional e comportamental. E reforço: aquilo que domina a sua mente, controla a sua vida. Portanto, escolha ser você a pessoa no comando, pois se não é você quem está dominando a sua própria mente - outras pessoas e coisas está! Como disse Dostoievski: “A melhor maneira de manter um prisioneiro é garantir que ele nunca saiba que está numa prisão.”

A arquitetura da realidade: do inferno ao céu interior (e vice-versa)

A reflexão que se impõe é poderosa: Nossa mente pode fazer do céu um inferno, mas também pode fazer do inferno um céu. Esta escolha é de cada um! Não a deixe nas mãos dos outros. Como disse Marco Aurélio: "A felicidade de sua vida depende da qualidade de seus pensamentos."

Essa ideia é o pilar do trabalho de pensadores como Napoleon Hill, que declarou: "O que a mente do homem pode conceber e acreditar, ela pode alcançar". E como reforça Bob Proctor: "Nossos pensamentos e ações moldam quem nós somos". Eles não apenas acreditavam no poder do pensamento, mas defendiam que ele é a ferramenta com a qual esculpimos nossa realidade material e espiritual.

Ou seja, tudo é percepção e interpretação de contextos. E a forma como percebemos e interpretamos o mundo é determinada pelo grau de desenvolvimento do nosso pensamento crítico.

Compartilho agora um texto retirado do perfil @meulivrodaconscienciaoficial para auxiliar nossas reflexões:

“É você quem decide! É você quem decide viver na alegria ou na tristeza. Na prosperidade ou na pobreza. Com companhia ou solidão. Não está vivendo o que gostaria? Olhe para seu passado e veja como tudo o que você fez até agora surtiu efeito em sua vida. O que precisa mudar? Muitas vezes, ficamos no plano das ideias e dos desejos, mas não partimos para a ação. É preciso agir e se policiar para não repetir padrões que não deram certo. Tenha uma nova postura diante da vida ao pensar, falar ou se relacionar. Nada acontece por acaso. Tudo o que existe hoje em sua vida é fruto de uma decisão.”

É aqui que a sabedoria de Sêneca ressoa: "Não é porque as coisas são difíceis que não ousamos; é porque não ousamos que elas são difíceis". A ação é o passo que transforma o pensamento em destino. Destino é resultado, é fruto de nossos atos. E não agir também é uma decisão, uma escolha, uma conduta... Por isso que quem nada faz, muitas vezes é escravo do nada que faz. A infalível lei da semeadura – o plantio é opcional, mas a colheita é obrigatória. Quem nada planta, nada colhe.

O legado de nossas decisões

“É você quem decide viver na alegria ou na tristeza. Na prosperidade ou na pobreza.” Se não está vivendo o que gostaria, olhe para trás. Somos o que somos e estamos onde estamos por causa de tudo o que está (e não está) em nossas mentes, pois é ela quem define nossos comportamentos, responsáveis por praticamente 90% do nosso êxito em qualquer área e aspecto da vida que queira considerar.

Ou seja, nossos resultados são a somatória das escolhas que fizemos até hoje. Como disse Tony Robbins: "É nos seus momentos de decisão que o seu destino é moldado". O que precisa mudar? É preciso agir e se policiar para não repetir padrões que não deram certo. É o “orai e vigiai” aplicado a cada escolha do nosso dia a dia. E a qualidade desta prática no dia a dia é determinada pelo nosso grau de pensamento crítico.

Tenha uma nova postura diante da vida ao pensar, falar ou se relacionar. Como Wandy Luz certa vez pontuou: "Estamos sempre encontrando defeitos na vida, nos outros e em nós. Mas o defeito está na perspectiva. Não é o que você vê, é como você olha para as coisas e para as pessoas. Não se trata de como a vida é, mas sim de como a gente decide encará-la e vivê-la." Esta afirmação ressoa profundamente com a compreensão de que o pensamento crítico não é apenas uma habilidade intelectual, mas a própria forma como concebemos e criamos nossas realidades. Ele atua como as lentes através das quais interpretamos o mundo, filtramos informações e, consequentemente, tomamos decisões. Ao aprimorarmos essa capacidade de pensar criticamente, elevamos nossos padrões de discernimento, tornando-nos mais aptos a fazer escolhas conscientes e alinhadas com nossos valores mais profundos. É por meio dessa clareza mental que passamos a construir uma existência mais intencional e significativa.

A arquitetura da escolha: a liberdade e o fardo de Sartre

A filosofia existencialista de Jean-Paul Sartre nos confronta com a poderosa verdade de que "a existência precede a essência." Isso significa que não nascemos com um propósito pré-determinado; somos lançados no mundo e, a cada escolha, a cada ação, vamos esculpindo quem nos tornamos. Essa liberdade radical, contudo, vem acompanhada de um imenso fardo: a responsabilidade total por nossa própria existência. Se, como se costuma dizer, "somos as escolhas que fazemos", então o pensamento crítico emerge como a ferramenta primordial para exercer essa liberdade de forma autêntica e construtiva. Ele nos capacita a ser os verdadeiros arquitetos de nós mesmos, construindo uma vida com propósito e significado, em vez de sermos meros produtos das circunstâncias.

O espelho da alma e os méritos de nossas ações

A sabedoria atemporal de Sócrates nos convida a uma introspecção contínua com sua máxima: "a vida não examinada não vale a pena ser vivida." Essa provocação é um chamado urgente à autoavaliação, a questionar o impacto real de nossas ações e pensamentos. Estamos, de fato, agregando valor às vidas ao nosso redor e ao mundo, ou estamos, por inércia ou negligência, subtraindo? Como nossos comportamentos e feitos estão influenciando, impactando o mundo a nosso redor? De forma positiva ou negativa, boa ou ruim, para o bem ou para o mal?

Marco Aurélio também nos lembra de nossa interconexão. Como "cidadãos do cosmos", nossas ações não se restringem ao nosso círculo imediato; elas reverberam em um sistema maior. Ao dizer que "o que não é bom para a colmeia não pode ser bom para a abelha," ele destaca que o bem-estar individual está intrinsecamente ligado ao bem-estar coletivo. Assim, a autoavaliação crítica se torna um exercício de responsabilidade universal, onde ponderamos como nossas escolhas contribuem para o bem comum.

Dentro deste contexto, Bob Proctor nos convidava a pensar além ao dizer que "nossos pensamentos e ações moldam quem nós somos e afetam aqueles ao nosso redor". Lembre-se: "Por seus frutos os conhecereis" (Mateus 7:16-20)

A lei universal da semeadura: criando céus e infernos

O princípio de "ação e reação", ou causa e efeito, é uma lei universal que transcende culturas e filosofias, manifestando-se em conceitos como o Karma. Como a Regra de Ouro, entre tantos outros. A questão é - aquilo que projetamos para o mundo, seja em pensamentos, palavras, ações e sentimentos, inevitavelmente retorna a nós. Ao cultivarmos e projetarmos o bem, a cooperação, a empatia e o valor para os outros, não apenas enriquecemos suas vidas, mas também criamos um ambiente mais propício e harmonioso para nossa própria existência.

É crucial reconhecer a poderosa reflexão de que nossas escolhas têm a capacidade de criar "céus e infernos" não apenas em nossa própria vida, mas também na vida das pessoas ao nosso redor. Cada decisão, por menor que pareça, carrega o potencial de influenciar o bem-estar alheio. Isso nos impulsiona a uma consideração mais profunda e empática em cada passo que damos, reconhecendo que somos co-criadores tanto da nossa própria realidade quanto da realidade coletiva.

Um convite para "pensar de verdade" - o caminho para melhores versões

Adam Grant, em seu trabalho sobre repensar crenças (o conjunto de tudo aquilo que acreditamos e não acreditamos) nos estimula a questionar: "A maior descoberta de minha geração é que os seres humanos podem alterar suas vidas alterando suas atitudes mentais." Essa perspectiva nos provoca a refletir: visões distorcidas surgem quando nos apegamos a crenças desatualizadas, resistindo às atualizações que poderiam curar discórdias – o pensamento crítico trata deste mal, permitindo que atitudes mentais transformem infernos pessoais em céus coletivos, influenciando ambientes com escolhas que agregam em vez de subtrair.

Napoleon Hill, ao explorar o poder da mente, reforça que a qualidade dos pensamentos é o alicerce: "O que a mente do homem pode conceber e acreditar, ela pode realizar." Assim como Henry Ford, ao dizer que “se você pensa que pode ou pensa que não pode, de qualquer forma você está certo.”

Bob Proctor, complementando, via a mente como criadora: "Você atrai não o que deseja, mas o que você é." Visões distorcidas nos fazem "ser" reféns de influências negativas, projetando discórdia – o pensamento crítico nos transforma em seres que atraem e criam céus, onde ações moldam impactos positivos que podem ser mensurados pela influência benéfica no entorno. Essa máxima nos provoca a autoavaliar: pensamentos de baixa qualidade criam infernos para si e outros, com condutas que subtraem – o pensamento crítico eleva essa qualidade, permitindo escolhas que validam uma visão harmoniosa, onde ação e reação geram ciclos virtuosos de agregação e prosperidade.

Compreenda que a jornada de nos tornarmos "melhores versões de nós mesmos" não é um destino final, mas um processo contínuo de aprendizado, crescimento e evolução. Como nos ensina Adam Grant em seu livro “Pense de Novo” - é fundamental estarmos abertos a questionar nossas próprias crenças, a aprender com novas informações e a ajustar nossas perspectivas. Essa flexibilidade mental é a essência do pensamento crítico em ação.

A escolha de aprimorar nosso pensamento crítico é, portanto, a decisão mais fundamental e impactante que podemos tomar. É o primeiro passo para elevar a qualidade de todas as nossas outras escolhas, permitindo-nos navegar pela complexidade da vida com maior sabedoria, propósito e um impacto positivo duradouro no mundo. Repense a respeito, pois a qualidade de sua vida e do mundo ao seu redor depende disso.

Limpando as lentes para um mundo melhor

Que a gente se conecte cada vez mais com esta jornada de aprimoramento e, assim, "limpe e calibre cada vez mais as nossas lentes". Se somos as escolhas que fazemos, como está a qualidade deste processo como um todo? Estamos buscando nos tornar melhores versões de nós mesmos ou apenas sobrevivendo ao tempo que passa? Estamos movendo o mundo ou apenas nos movendo pelo mundo?

Que a gente compreenda cada vez mais a importância de boas escolhas. E para isso, a primeira e mais fundamental escolha é a de aprimorar o nosso pensar! Portanto, faça esta escolha e espalhe esta chama, pois quem compartilha – multiplica...

Marcelo Tempesta, PhD