O desejo, a comunidade e a coerência
Uma breve reflexão sobre nossas buscas, ambientes e ações.
Marcelo Tempesta, PhD
9/23/20257 min read


O desejo (as nossas buscas)
Napoleon Hill, em sua sabedoria atemporal, afirmava: "O ponto de partida de qualquer conquista é o desejo." E isso não é novidade... Essa verdade ressoa há milênios, desde as tradições filosóficas antigas até as evidências de estudos modernos sobre ciências comportamentais. Entretanto, aqui reside um gritante paradoxo atual: apesar de termos à nossa disposição uma riqueza de conhecimentos que nos ajudam na construção de uma vida de melhor qualidade, sentido e valor, muitos de nós escolhem permanecer no confortável ciclo vicioso do desperdício de potencial.
Infelizmente, a maioria das pessoas está em um estado de alienação tão grave que, das mais variadas formas, prefere ignorar o poder de tantos óbvios transformadores de vida, em troca de nada que demande muito esforço e por futilidades que a sacie com apenas alguns segundos de sua atenção. E pior, sem ter que pensar muito para entender, pois até o ato de pensar a cansa.
Um automatismo maléfico que beira a insanidade em busca do prazer imediato de forma mais fácil e cômoda possível – em busca de qualquer coisa que a agrade desde que não tenha que se esforçar muito para conseguir. Esta maioria escolhe ignorar os verdadeiros processos de evolução que a conduziria para uma vida mais próspera e plena. Trocam a Lei da Semeadura pela distorção de suas realidades, optando por existir a base de superficialidades, mentiras e aparências, se distanciando cada vez mais do bem e abraçando cada vez mais intimamente o mal. São pessoas que escolhem, conscientemente ou não, sobreviver alimentando suas ilusões com os mais variados mecanismos de compensação emocional, mascarando os efeitos de sua desconexão com si mesmas e das dores resultantes de seus vazios interiores.
Lao Tsé nos alerta para os perigos de nos perdermos na superficialidade de nós mesmos, ao dizer: "Quem conhece os outros é sábio; quem conhece a si mesmo é iluminado." Sua filosofia nos convida a olhar para dentro, reconhecendo que o desejo verdadeiro – aquele que nos move em direção à realização, que enche de brilho nossos olhos e coloca nossas almas em chamas – exige reflexão e esforço consciente para superar os atalhos automáticos prejudiciais da mente.
Outro comportamento que agrava esse ciclo vicioso é a nossa tendência de negar o desconhecido e até mesmo a contrariar, mesmo não tendo conhecimento, pelo simples fato de não nos soar familiar. Como já dizia Sócrates, a verdadeira sabedoria começa com a humildade de reconhecer o que não sabemos. No entanto, frequentemente rejeitamos o que desafia nossos padrões habituais, negando ideias que nos tiram da zona de conforto/acomodação – a zona do que acreditamos saber. Essa resistência ao novo, ao desconfortável, é um sinal de baixo pensamento crítico.
Immanuel Kant, em sua filosofia moral, argumentava que a autonomia da razão é essencial para a liberdade: "Ousa saber! Tem a coragem de usar tua própria razão." Para Kant, negar o desconhecido por medo ou preguiça é renunciar à nossa capacidade de crescer. Essa negação nos prende a um estado de estagnação, onde transitamos por reações automáticas que lembram as fases iniciais do luto – negação, raiva, barganha e depressão.
Sim, pode parecer exagerado e pesado, mas é uma provocação necessária: estamos conduzindo nossas vidas com base em reações irreflexivas, em vez de escolhas conscientes. Está na hora de mudar! Charles Chaplin nos inspira com sua visão vibrante: "Bom mesmo é ir à luta com determinação, abraçar a vida com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, pois o mundo pertence a quem se atreve. E a vida é muito bela para ser insignificante."
Essa frase nos lembra que a mudança começa com a aceitação do nosso papel ativo na construção da realidade, na aceitação de nossa autorresponsabilidade e protagonismo. Carol Dweck, com sua teoria da mentalidade de crescimento, reforça que o desejo de mudar é alimentado pela crença de que podemos evoluir. Em Mindset, ela escreve: "A visão que você adota sobre si mesmo afeta profundamente a maneira como você conduz sua vida." Adotar uma mentalidade de crescimento nos capacita a transformar o desejo em ação, superando o automatismo e abraçando o desconforto como parte da jornada de evolução.
Adam Grant, em seu livro "Pense de Novo", chama isso de mentalidade de "pregador" ou "promotor", na qual defendemos nossas crenças a todo custo em vez de adotar a mentalidade de "cientista", que se delicia em descobrir novas formas de pensar, experienciar, construir e moldar realidades.
A Comunidade (os ambientes que nos conectamos)
Nenhuma jornada significativa é percorrida sozinha. A conexão com outros é essencial para multiplicar nosso potencial. Como já dizia Aristóteles, o ser humano é um "animal político", projetado para viver em comunidade. Ele acreditava que a felicidade plena (eudaimonia) só é alcançada em relações baseadas em virtude e propósito compartilhado.
Napoleon Hill, além do desejo ardente, nos deu o conceito de "Mastermind" : a aliança de duas ou mais mentes trabalhando em perfeita harmonia por um objetivo comum. É quando nos conectamos com pessoas que também estão em suas buscas que a mágica começa a acontecer. Por isso é importante cuidar tanto da qualidade da nossa mente quanto da qualidade das mentes com que a gente se conecta.
Hannah Arendt, filósofa moderna, complementa essa ideia ao destacar o poder da ação coletiva: "A ação humana, quando realizada em conjunto, cria um espaço público onde o sentido da vida emerge." A qualidade das mentes com as quais nos conectamos molda nosso ambiente, e o ambiente, como já discutimos, exerce uma influência poderosa sobre nossas emoções, decisões e comportamentos.
Brene Brown, pesquisadora da coragem e da vulnerabilidade, nos ensina que a conexão genuína exige coragem para sermos autênticos: "A conexão é a energia que surge entre as pessoas quando elas se sentem vistas, ouvidas e valorizadas." Ao nos conectarmos com pessoas que compartilham valores elevados, criamos um ciclo virtuoso que multiplica o impacto de nossas buscas. Ou seja, nossos potenciais são multiplicados quando estamos em sintonia com ambientes que atribuem significados de qualidade aos seus atos.
Quando falo de criar um ambiente enriquecido por valores, princípios e objetivos em comum, refiro-me ao poder transformador do senso de comunidade. A qualidade de uma comunidade – seja para o bem ou para o mal – depende dos princípios e valores que a sustentam, da cultura que a permeia e do propósito que a guia.
Mihaly Csikszentmihalyi, em sua teoria do estado de fluxo, explica que a harmonia entre pensamento, sentimento e ação – o que ele chama de "experiência ótima" – é mais facilmente alcançada em ambientes que nos inspiram e desafiam. Ele escreve: "O melhor momento da vida ocorre quando o corpo ou a mente de uma pessoa é levado ao seu limite em um esforço voluntário para realizar algo difícil e valioso." Uma comunidade alinhada com propósitos elevados nos coloca nesse estado de fluxo, onde nossas ações refletem nossos princípios e valores mais profundos.
Outro ponto a ser refletido é a qualidade do que se busca nesta comunidade. A busca da comunidade que você quer avaliar gera prosperidade ou escassez? É construtiva ou destrutiva? Existem muitas perguntas que podem ser feitas para avaliarmos com um melhor grau de pensamento crítico a qualidade de uma comunidade, mas, de forma geral - a qualidade de uma comunidade pode ser validada pela qualidade de seus atos/comportamentos. Essa reflexão é essencial para avaliarmos as comunidades em que já estamos inseridos e das comunidades que queremos nos conectar ou construir.
A coerência (nossa autoeficácia)
A coerência entre pensamento, sentimento e ação é um dos maiores desafios humanos. Como dizia Sêneca: "Não há vento favorável para quem não sabe aonde quer ir." Sem clareza de propósito, nossas ações se desconectam de nossos pensamentos e sentimentos, gerando incoerência e frustração. Anthony Robbins reforça: "São suas decisões, e não suas condições, que determinam seu destino." Cada decisão é uma oportunidade de alinhar o que pensamos, sentimos e fazemos, transformando desejo em realidade.
Angela Duckworth, em seu livro "Garra", destaca que a determinação – a combinação de paixão e perseverança – é o que nos mantém firmes nesse alinhamento, mesmo diante de desafios. Particularmente, quando eu paro para refletir sobre isso, gosto de usar a palavra diligência, devido a abrangência de seu significado. Caso não conheça de forma mais profunda seu significado, sugiro pesquisá-la! Vale até mesmo como um estímulo para que se esforce a ir atrás por mais. A vida é feita de movimentos e movimentos requerem esforços de nossa parte. Para ir além é preciso pensar além, assim como romper limiares de esforços feitos até então...
De qualquer forma, a qualidade de nossas ações é um reflexo da qualidade de nossas buscas, que por sua vez, depende da qualidade dos significados atribuídos a cada uma delas - na qualidade do valor emocional atrelado. Por isso que propósitos não são feitos de palavras e intenções, mas sim - dos valores emocionais atrelados a eles. É na tríade do Significado/Conexão/Atitude que reside o nosso poder de execução e conquista.
A busca por coerência e conexão exige pensamento crítico. Epicteto nos lembra: "Não são as coisas que nos perturbam, mas nossos julgamentos sobre elas." O pensamento crítico nos permite questionar os automatismos que nos limitam, avaliar a qualidade de nossas influências e escolher ações que confirmem nossos valores. Lao Tsé complementa com sua visão de harmonia: "A jornada de mil milhas começa com um único passo." Cada pequeno ato de reflexão, cada escolha consciente, é um passo em direção a uma vida mais próspera e plena.
A qualidade da nossa colheita – pessoal, profissional, emocional – além da preparação de solo fértil, depende da qualidade do que estamos cultivando e, principalmente, da qualidade com que cuidamos desse cultivo – da qualidade do ato de cuidar! Bob Proctor, um mestre da lei da atração, diria que você não atrai o que você quer, você atrai o que você é. E o que você é se manifesta em suas ações, não apenas em suas palavras. Por isso a importância da constante busca por melhores versões de nós mesmos.
Como sabem, a lei da semeadura é infalível. O nosso plantio é opcional, mas a colheita é obrigatória. Porém... De nada adianta boas sementes se pecarmos no cultivo, no ato de cuidar. Qual a qualidade do seu cultivo!? O quão bem está cuidando daquilo que é prioridade em sua vida? E mais... Qual a qualidade do que você tem definido como prioridade para sua vida? Já pensou a respeito? É crucial pois, de repente, você pode estar cultivando muito bem algo que não quer colher ou deixando de cuidar daquilo que mais te importa. E lembre-se, no jardim de nossas vidas, nem todas as sementes serão plantadas só por nós... Mas, é de nossa escolha o que vamos cultivar e permitir que cresça.
Portanto, conecte-se com ambientes de qualidade, que agreguem valor, que inspirem o bem e o espalhe. Como dizia Platão, a educação é acender uma chama, não encher um recipiente. Que essa chama ilumine sua jornada, multiplique seu potencial e transforme o mundo ao seu redor.
Boas reflexões, boas ações e compartilhe a filosofia Tempestando - pois quem compartilha, multiplica!
Marcelo Tempesta, PhD.