Mergulhando no oceano da mente

Os feitiços do pensamento crítico e os encantos de sua profundidade

Marcelo Tempesta, PhD

11/3/20255 min read

As águas do pensamento crítico como fonte de execução

Jacques-Yves Cousteau, explorador dos mares, nos deixou uma reflexão profunda: "O mar, uma vez que lança seu feitiço, prende você em sua rede de maravilha para sempre." Utilizando esta frase como uma metáfora para autoestima e autoconfiança (uma não vive sem a outra) – Só quem se aprofunda no oceano de si mesmo é que descobre o tesouro que é e seus verdadeiros potenciais. E somente ao manifestá-los é que sua verdadeira autonomia é exercida e sua real liberdade começa a ser construída.

Em outras palavras – quem não se aprofunda no oceano de si mesmo não se liberta, e muitas vezes, sequer desperta sobre as próprias condições que a aprisiona.
Einstein já nos provocava ao dizer que “A percepção do desconhecido é a mais fascinante das experiências. O homem que não tem os olhos abertos para o misterioso, passará pela vida sem ver nada. Aquele que desconhece esta emoção, aquele que não para mais para pensar e não se fascina, está como morto: seus olhos estão fechados.”

Dentro deste contexto, ao nos encantarmos pelos feitiços do pensamento crítico (pelo pensar de verdade), nosso olhar para o mundo (e tudo que dele faz parte) nunca será o mesmo. Aliás, para muitos, é como o curar da cegueira – um acordar para a vida! Como disse Tolstói: “Há quem passe por um bosque e só veja lenha para a fogueira.” Acredito que você, assim como eu, não quer ser este tipo de pessoa, certo?

Reforço esta reflexão com uma frase de Wayne Dyer: “Mude o modo que você olha para as coisas e as coisas que você olha mudarão.” Na Tempestando dizemos – Mude as lentes com que você enxerga o mundo e todo o seu mundo mudará.”

Voltando aos mares que navegamos e a profundeza da autenticidade

Na vastidão dos oceanos que são nossas vidas, onde cada onda representa um dia, quantas você realmente surfou? Quantas tentou enfrentar? Há quem nunca passa pela zona de arrebentação, há quem sequer tenta passar, e acaba escolhendo viver na superfície, no raso, na poça. Inclusive há quem sequer ousa molhar seus pés nestas águas. Porém, o verdadeiro tesouro está nas profundezas do oceano de si mesmo, onde se encontram os verdadeiros potenciais a serem descobertos e manifestados.

Como dizia Carl Jung: "Quem olha para fora sonha; quem olha para dentro desperta." Parafraseando Jung, negar o mergulho em nossa própria natureza é adoecer, pois só se afoga quem rejeita as águas que compõem sua própria essência. Em um mundo cada vez mais superficial, o pensamento crítico nos convida a buscar o que é profundo, a explorar o oceano interior e a viver com autenticidade.

Sêneca, o filósofo estoico, nos guia nesse mergulho: "A vida do homem não está na calmaria, mas na razão reta. Muitas coisas acontecem que perturbam, muitas que inquietam; contra todas elas, a filosofia arma e prepara." Suas cartas nos ensinam que a coragem para enfrentar as ondas da vida vem da introspecção e da razão. A filosofia estoica, como um timoneiro, nos ajuda a navegar as águas turbulentas, rejeitando o superficial e buscando a sabedoria que reside na profundidade.

Martin Heidegger, em Ser e Tempo, reforça essa ideia ao destacar a importância de viver autenticamente: "O ser humano só se torna quem é ao enfrentar a própria existência com coragem." Para Heidegger, mergulhar no oceano de si mesmo é um ato de autenticidade, um confronto com nossa essência que nos liberta do automatismo e nos conecta ao sentido da vida.

Sêneca prossegue: "A filosofia não é uma arte popular nem está preparada para exibição; não está nas palavras, mas nas ações. Não é usada para passar o dia com algum prazer ou para aliviar o tédio do ócio: ela molda e forma a alma, ordena a vida, guia as ações, mostra o que deve ser feito e o que deve ser evitado, senta-se ao leme e dirige o curso através das ondas incertas." O mesmo se aplica ao autoconhecimento, que, guiado pelo pensamento crítico, transforma ideias em hábitos virtuosos - informação em ação.

Aos olhos da Tempestando, defendemos ferozmente este dito de Sêneca, ao enfatizarmos que autoconhecimento só desperta e liberdade de verdade quando aplicado com um pensamento crítico de qualidade.

Plotino, filósofo neoplatônico, complementa ao sugerir que a alma busca a unidade interior: "Retorne ao seu interior, e ali encontrará a fonte de toda verdade." Contexto este defendido por muitos até hoje, como por exemplo, Jacob Petry, escritor brasileiro cujo livros recomendo fortemente. Petry enfatiza muito esta linha de Plotino ao se referir sobre a essência do "eu verdadeiro", ponto este trabalhado profundamente por meio da ciência do pensamento crítico, que além de nos ajudar a mapear a nossa verdadeira natureza/identidade, também atua como um leme que nos capacita a alinhar pensamentos, sentimentos e ações, criando ciclos virtuosos que florescem em uma vida de muito mais sentido e significado.

O pensamento crítico é tanto nossa bússola quanto oxigênio nas profundezas da mente

Viktor Frankl, em “Em Busca de Sentido”, nos lembra que o sentido é a força que nos move: "A vida nunca se torna insuportável por causa das circunstâncias, mas por falta de significado e propósito." Atribuir significados de qualidade aos eventos da vida exige que mergulhemos profundamente em nós mesmos, questionando crenças automáticas e escolhendo respostas conscientes.

Ellen Langer, pesquisadora do mindfulness, reforça que a consciência plena é essencial para escapar do automatismo: "A mente distraída vive no piloto automático, mas a mente atenta cria escolhas." O pensamento crítico nos desperta, permitindo-nos surfar as ondas da vida com intenção e propósito, em vez de sermos arrastados pela corrente do ritmo hipnótico.

Cousteau nos oferece outra lição: "Quando vamos até o fundo do mar, descobrimos que ali jamais poderíamos viver sozinhos. Então levamos mais alguém. E esta pessoa, chamada de dupla, companheiro ou simplesmente amigo, passa a ser importante para nós. Porque, além de poder salvar nossa vida, passa a compartilhar tudo que vimos e sentimos." Metaforicamente, o mergulho no oceano de nós mesmos nos conecta aos outros, formando equipes unidas por propósitos compartilhados.

A conexão com os outros, guiada pelo pensamento crítico, nos permite construir comunidades baseadas em valores autênticos, onde compartilhamos não apenas experiências, mas também a busca por uma vida mais plena. Uma vida de qualidade começa na mente – na coerência entre o que pensamos, sentimos, falamos e fazemos. Como dizia Aristóteles, a felicidade plena (eudaimonia) é alcançada quando vivemos de acordo com a virtude, alinhando nossas ações aos nossos valores mais elevados.

Barbara Fredrickson, com sua teoria da ampliação e construção (que tem a ver com valores elevados), explica que emoções positivas, como a curiosidade e a gratidão, ampliam nossa capacidade de enxergar novas possibilidades: "As emoções positivas abrem nossa mente, permitindo-nos construir recursos duradouros." O pensamento crítico é o que nos capacita a cultivar essas emoções (valores elevados), atribuindo significados de qualidade às ondas da vida.

Em um mundo que valoriza a superficialidade, escolher a profundidade é um ato de coragem. Como dizia Sócrates: "Só sei que nada sei, e o fato de saber isso me coloca em vantagem sobre aqueles que acham que sabem alguma coisa." Essa humildade intelectual nos convida a mergulhar no oceano do aprendizado, explorando os tesouros escondidos em nossa mais íntima natureza.

Napoleon Hill reforça: "Nossa força maior está no poder de controlar e direcionar nossos pensamentos para onde quisermos." Que tal, então, escolher surfar as ondas, mergulhar fundo e conectar-se com o que é verdadeiro? Que tal escolher direcionar os pensamentos para mapear o seu "Eu Verdadeiro", a sua verdadeira natureza/identidade, assumindo assim um maior controle de seu aprendizado e sua vida pessoal e profissional? A escolha é sua – permita que o “feitiço” do pensamento crítico ilumine seu oceano interior para que você, com toda sua verdadeira autenticidade, transforme sua realidade.

Marcelo Tempesta, PhD.