A carência do mundo pelo pensar de verdade
A urgência do pensamento crítico para uma vida plena e um mundo melhor
Marcelo Tempesta, PhD
10/6/20257 min read


Nossa jornada é mais que urgente!
Para aqueles conectados com a busca por evolução pessoal e coletiva, trago as palavras visionárias de Richard Paul e Linda Elder, autores do livro Pensamento Crítico: Ferramentas para assumir o comando da sua vida pessoal e profissional. Em 2002, eles dedicaram seu livro da seguinte forma: "Para aqueles dispostos a trabalhar não apenas para melhorar suas vidas, mas também para criar um novo mundo, onde a justiça e o bom senso sejam norma, e não exceção. E onde o poder sirva à razão, em vez da razão servir ao poder."
Quase duas décadas depois, a dedicatória de edição atualizada do livro reflete uma preocupação intensificada: "A todos aqueles que sofrem crueldade e injustiça devido ao preconceito, autoengano e pensamento antiético que dominam o mundo. E a todas aquelas pessoas que trabalham diligentemente e incansavelmente para trazer o pensamento crítico justo/imparcial para suas próprias vidas e para as sociedades humanas."
A evolução dessas palavras revela a gravidade crescente dos desafios que enfrentamos – preconceitos, automatismos e falta de reflexão crítica – que impactam visivelmente nossas vidas, desde as relações pessoais até as dinâmicas sociais. Esses efeitos, como Paul e Elder alertam, estão piorando, e sentimos isso na pele das mais variadas formas. E a pergunta que fica é:
Como você quer lidar com tudo isso?
O mundo está mudando em velocidade nunca vista ao longo de todo processo evolutivo de nossa existência. Como se comportar perante todo este turbilhão de acontecimentos é escolha de cada um, assim como escolher qual papel deseja assumir na história.
Independente de aspirações individuais, é o nosso grau de pensamento crítico que desenvolve nosso repertório para fazermos escolhas. Um repertório mais aprimorado e diversificado nos torna mais preparados para fazermos melhores escolhas. E lembre-se o que já compartilhamos várias vezes em outras reflexões – nossa atual realidade (em qualquer área da vida) é resultado da somatória de nossas escolhas feitas até então.
Dito isso... Bruce Lee, com sua sabedoria prática, nos inspira: "Melhor ser um guerreiro em um jardim do que um jardineiro numa guerra." Essa frase nos convida a cultivar “o superpoder” do pensamento crítico, preparando-nos para enfrentar desafios com mais coragem, sensatez e discernimento. John Stuart Mill, defensor da liberdade de pensamento, reforça essa ideia ao dizer: "Aquele que só conhece o seu lado da questão não conhece bem nem esse." Para Mill, o pensamento crítico não é apenas uma ferramenta pessoal, mas um dever social, pois somente através do debate e da abertura a novas perspectivas é que podemos construir uma sociedade mais justa.
Estas dedicatórias compartilhadas são como princípios para muitos que estão nesta busca de aprimoramento do pensamento crítico, evolução pessoal e consequentemente, do mundo até onde nossas conexões nos permitirem chegar. E como sabem – juntos somos melhores, mais fortes e chegamos muito mais longe. Por isso eu gosto de sempre compartilhar a frase: “que esta chama se espalhe!”
Liberte-se desta prisão!
Nossa capacidade de fazer escolhas conscientes depende do nosso repertório mental. Um repertório mais diversificado e aprimorado nos capacita a tomar decisões que transformam não apenas nossas vidas, mas também o mundo ao nosso redor.
Entretanto, o automatismo maléfico – esse ciclo vicioso de respostas e reações irreflexivas – é uma prisão mental que nos limita, muitas vezes sem que percebamos. Ele nos condiciona a aceitar o que nos é entregue, em vez de buscar o que realmente desejamos. Nos domestica a não questionarmos.
Nos faz consumir apenas conteúdos fáceis, superficiais e até banais. Nos faz evitar o esforço da reflexão e reduz nosso limiar de dedicação e comprometimento. Nos transforma em cegas presas extremamente susceptíveis a todo tipo de manipulação. Por isso a importância de nos policiarmos. Por isso a importância de melhorar nosso pensamento crítico. Justamente para não nos tornarmos reféns, vítimas destes efeitos que tanto nos prejudicam.
Lisa Feldman Barrett, neurocientista que estuda a construção das emoções, explica que nossas percepções são moldadas por previsões automáticas do cérebro, baseadas em experiências passadas. Em seu livro “Como As Emoções São Criadas” (How Emotions Are Made), ela escreve: "Você não é um passageiro passivo das suas experiências; você as constrói ativamente." O automatismo maléfico nos faz delegar essa construção a hábitos inconscientes, confinando-nos a uma bolha cada vez menor.
Sócrates, com sua humildade intelectual, nos oferece a chave para furar estas bolhas: "Só sei que nada sei, e o fato de saber isso me coloca em vantagem sobre aqueles que acham que sabem alguma coisa." Essa humildade nos convida a questionar nossas certezas, abrindo espaço para o aprendizado.
O aprendizado deve ser uma aventura, não um fardo.
O aprendizado deve ser uma chamada para uma nova aventura e não um tédio obrigatório ou ignorado. O senso de aventura nos instiga a viver novas histórias, eternizar momentos, colecionar memórias. Nos conduz a uma vida de realizações. Cabe a cada um escolher qual significado dar... Daniel Pink, em Drive, destaca que a motivação intrínseca – impulsionada por propósito, autonomia e maestria – é o que nos leva a abraçar o aprendizado com entusiasmo. Ele escreve: "O desejo de fazer algo porque é significativo nos leva a realizar mais do que imaginávamos."
O automatismo maléfico, por outro lado, apaga essa chama, sugando a energia dos sonhos, acabando com vitalidade e desejos, transformando assim esperança em ilusão. Ele mata qualquer vontade e nos faz acumular vazios de um tempo que não volta. Ele nos prende a padrões comportamentais que nos prejudicam, nos torna reféns de ciclos viciosos que nos distancia da vida plena que cada um, lá no íntimo, verdadeiramente gostaria de viver.
O pensamento crítico é a ferramenta que nos desperta e quebra essas correntes, iluminando novos caminhos. Como dizia Isaac Newton: "O que sabemos é uma gota; o que ignoramos é um oceano." Aprender é mergulhar nesse oceano, descobrindo o prazer de expandir nossa mente e ressignificar nossa realidade. Aprimorar o pensamento crítico nos liberta da inflexibilidade mental, do autoengano e do preconceito, permitindo-nos considerar uma multiplicidade de contextos e percepções em nossas avaliações. Nos faz aceitar com humildade que não sabemos de tudo e nem somos donos de todas as verdades.
Simone de Beauvoir, em sua filosofia existencial, nos lembra que a liberdade vem com a responsabilidade de escolhermos conscientemente: "A liberdade não é algo que se dá; é algo que se toma." Para Beauvoir, o pensamento crítico é um ato de coragem, pois exige que enfrentemos o desconforto de questionar nossas crenças e assumamos a responsabilidade por nossas escolhas. Esse processo melhora nosso discernimento, fortalece nosso caráter e contribui para um legado de sabedoria para as futuras gerações.
Karl Popper, filósofo da ciência, complementa ao defender a abertura à crítica como essencial para o progresso: "A verdadeira ignorância não é a ausência de conhecimento, mas a recusa em adquiri-lo." A humildade intelectual, como Sócrates e Popper sugerem, é o antídoto contra a rigidez de quem acredita saber tudo.
“Se idiotas soubessem voar, não veríamos mais o céu...”
Citando Bertrand Russell: O problema do mundo de hoje é que as pessoas sábias estão cheias de dúvidas, e as pessoas idiotas estão cheias de certezas. Este é um mal que vem se perpetuando e se intensificando desde os primórdios de nossa existência, causando as mais variadas formas de consequências, no mínimo desastrosas, até as mais severas e catastróficas. Entre uma incontável quantidade de nomes que sentiram na pele este mal, cito Galileu Galilei, cuja seguinte frase resume praticamente tudo sobre este assunto: "De todos os ódios, nenhum supera o da ignorância contra o conhecimento."
E este é um dos maiores problemas do mundo. Ouso pensar que pode ser a origem de todos os males... De qualquer forma, é um problema crescente – a postura de pessoas que se comportam como donas da verdade, rejeitando novos conhecimentos e impondo suas opiniões sem abertura ao diálogo. Esse comportamento, um indício claro de baixo pensamento crítico, nos isola em bolhas de certeza e ignora o universo de possibilidades além das nossas percepções - além do que nossas lentes conseguem enxergar.
Pessoas assim, vivem do que um dia ”aprenderam” (ou acham que aprenderam), e ponto – petrificam esta informação em forma de crença ou conhecimento como se nada mais mudasse, se transformasse, evoluísse... Como se já soubessem de tudo e não precisassem aprender mais nada. E, munidas destas primícias, no mínimo distorcidas e obsoletas, baseiam suas tomadas de decisões, escolhas e condutas. Ou seja, seus comportamentos - que serão condizentes e proporcionais ao que acreditam e deixam de acreditar, moldando assim suas realidades nas diferentes áreas da vida.
Reflita comigo: este tipo de conduta, na sua percepção, é algo bom e do bem!? É algo que faz bem para a própria pessoa que está se comportando desta forma e para outras ao redor dela!? Claro que tem momentos que temos que nos posicionar, sim! E aprimorar nosso pensamento crítico aguça o nosso discernimento para distinguir melhor quando é mais adequado e para o bem fazer isso ou não.
Hannah Arendt, refletindo sobre a ação humana, nos alerta: "A ausência de pensamento é uma ameaça à humanidade." Sem reflexão crítica, caímos em preconceitos e conflitos desnecessários, prejudicando a nós mesmos e aos outros. O pensamento crítico nos ajuda a distinguir quando é necessário nos posicionar e quando é mais sábio ouvir e aprender. Assim como a fazer isso de forma mais adequada e assertiva, conforme o contexto do ambiente em que estamos inseridos e da intencionalidade de nossos objetivos.
Temos que cuidar para que a inflexibilidade de nossas convicções não nos impeça de construir e desfrutar de uma vida mais próspera. Abrir-se a novas perspectivas, além de humildade, exige aprendermos a fazer uma melhor gestão do que acreditamos ser nossas vulnerabilidades, em vez de ignorá-las. Este é um ato que nos conecta a um mundo mais rico e diverso. E esta conexão transcende significados - transforma o que a maioria pensa ser fraqueza, em fortaleza. Mas este já é um outro assunto...
Uma reflexão final: A forma como nos comunicamos com o mundo molda a forma como o mundo se comunica conosco. Comunicação é comportamento e, como a Tempestando gosta de sempre enfatizar – 90% do êxito em qualquer área da vida está em nossos comportamentos.
Nossa jornada é mais que urgente para o desenvolvimento de um mundo mais próspero e saudável em todos os aspectos que quisermos considerar. Como dizia Napoleon Hill: "Nossa força maior não está na capacidade de pensar, mas no poder de controlar e direcionar nossos pensamentos para onde quisermos." Esse poder, guiado pelo pensamento crítico, nos permite ressignificar contextos, transformar desafios em oportunidades e criar realidades mais alinhadas com nossos princípios, valores e propósitos.
Como Aristóteles ensinava, a felicidade plena (Eudaimonia – assunto já abordado em newsletter anterior) é alcançada em comunidade, através de relações baseadas em virtudes e propósitos compartilhados. Portanto, que a chama do pensamento crítico se espalhe, iluminando nossas escolhas e inspirando a construção de um mundo melhor.
Lembre-se: quem compartilha, multiplica! Que a gente faça a nossa parte!
Marcelo Tempesta, PhD.